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Domingo de páscoa pelo caminho

Vocês lembram que comentei com vocês sobre meus pais adotivos do Caminho, a Iara e o “Gordo”? Pois hoje o post fala sobre como eles conseguiram me levar às lagrimas em um domingo de Páscoa.

Já fazia duas semanas que caminhávamos juntos, sempre lado a lado, não parece muito, mas duas semanas é muito quando se caminha muitos km, dorme, acorda e toma café da manhã junto. Éramos um trio inseparável e como a gente tinha assunto, por Dios! O Gordo não aguentava mais ouvir nossas histórias, mentira, ele adorava! Nós ríamos, reclamávamos do trajeto e sempre combinamos que se o percurso do dia fosse muito puxado, na chegada da cidade tomaríamos uma cerveja! E assim foi, sempre que cansávamos muito, brincávamos: foca na cerveja!

Por eles serem mais velhos que eu, sempre que chegávamos na nova cidade eu falava o hostel que eu iria ficar, sempre o mais simples e barato, mas deixava eles a vontade para ficarem em outro, mais confortável. Perda de tempo! Eles não buscavam conforto, estavam no clima da peregrinação e sempre ficamos no mesmo hostel, dormimos em cada lugar que só de lembrar agradeço a cama que tenho todos os dias! Mas certos perrengues fazem parte da rotina. E juntos dávamos boas risadas de toda a situação, nunca esqueço quando a Iara brigou com o “Gordo” porque ele não tinha lavado as meias naquele dia, eu brincava que não iria conseguir dormir com o fedor, eles riam, a gente não deixava ninguém dormir, porque quando um começava a rir o outro não parava mais! Eu estava muito feliz ao lado deles, porém, eu decidi pular um trecho de ônibus porque seria muito pesado para o meu joelho que voltou a doer. Eu pularia duas cidades, e eles continuariam caminhando. (No próximo post conto como é pular etapas, nada ilegal, ou menos peregrino, às vezes decisões sábias se o corpo pede). E foi o meu caso, olhando no mapa eu enfrentaria muitas subidas e descidas íngremes, nada bom para um joelho que pedia sossego! A decisão foi difícil, mas ao amanhecer eu pegaria um ônibus até a próxima cidade, e seguiria um pequeno trecho a pé até outra.

Naquela nossa última noite juntos, jantamos no restaurante do hostel e já sentíamos muita saudade um do outro. Cansados, fomos dormir cedo, acho que também bebemos demais e capotamos na cama! Pela manhã no café, lembramos que era domingo de Páscoa e também descobrimos que a parada do ônibus que eu iria pegar era próximo ao hostel, caminho contrário dos peregrinos que seguiriam a rota. Vou buscar minha mochila, quando retorno para me despedir deles já com os olhos cheio de lágrimas, a Iara me diz: “Não é porque estamos na Espanha no Caminho de Santiago que não terás que procurar os ovinhos que o coelho escondeu”. Eu não entendi na hora, mas logo comecei a rir e procuro meu “ovo de páscoa” que era um doce de chocolate que o hostel estava vendendo! Eu encontro e nele um bilhete lindo! Que tenho guardado até hoje!

O chocolate comi no ônibus enquanto chorava de saudades dos momentos vividos com eles e de que a vida é um simples ato de carinho e empatia. Seguimos nos falando todos os dias via wats quando nos conectávamos, eu cheguei em Santiago dois dias antes deles! E claro eles foram os primeiros a saberem!

Por Gabi

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