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De volta para casa

Acordei com o coração na mão, hoje volto para casa. Não tive uma noite muito tranquila, estava ansiosa. Vou me despedir de tudo. Amigos, lugares, histórias, mas com certeza vou levar um pouquinho de cada um nesse retorno.

 Eu ainda carrego meu cajado para cima e para baixo, na esperança de poder levá-lo para a casa, mas com as burocracias das companhias áreas para levar algo que não sejam malas. A ideia era deixar o cajado com um amigo que mora no Porto, mas pelas ironias do destino quando o encontrei não estava com ele em mãos e depois não conseguimos nos encontrar mais, o que me deixou aflita, pois não queria deixá-lo jogado por aí. Acho que já expliquei a relação de amor que sentia por ele, não? Quando tu caminha por muitos km sozinha o cajado acaba sendo um companheiro, que ouve tuas reclamações, risadas, quem vê de fora pensa que loucura essa pessoa falando sozinha, mas na verdade estamos apenas colocando os pensamentos pra fora, externalizando tudo. Então, como me despedir de um companheiro tão presente?

 Já no aeroporto, com a mochila nas costas, cajado nas mãos, aguardo o guichê abrir para fazer o chekin. Começa a bater uma ansiedade, sou a primeira da fila, três guichês abrem e escolho uma moça que me sorri e diz: pode passar! Despacho a mochila e pergunto, então, e o cajado posso despachar junto comigo? Ela responde: são 90 euros, equivalente a 300 reais, fico apavorada e digo ok. Fico parada tentando achar uma forma de não de não deixar meu cajado ali. Olho para os lados e meu olho enche de lágrima, pois não vejo saída. A moça do chekin, da cia área me olha e diz: Posso ficar com ele? Vou fazer o Caminho de Santiago daqui há cinco dias!

 Meu coração explodiu de tanta felicidade que me debrucei no balcão e comecei a chorar, e a fila atrás de mim não entende nada. Ela me conforta dizendo que vai cuidar bem! Eu digo que fiquei muito feliz e surpresa! No caminho do portão de embarque, ela vem correndo atrás de mim e diz: Moça! Eu despacho para ti o cajado, leva contigo! Sei como ele é importante para os peregrinos, ainda chorando agradeço e digo que vou pegar mais três vôos antes de chegar no Brasil e que um deles, vai barrar meu cajado. Era dela! E eu estava muito feliz de ter repassado meu companheiro. Ela me abraça e agradece.

Eu entro no avião de volta para Brasil com uma certeza. Já dizia Nando Reis, “ o mundo é bão Sebastião”.

Por Gabi

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