A constelação familiar é uma técnica ou terapia, que se concretiza por meio de uma dinâmica, criada e desenvolvida pelo teólogo, filósofo e psicólogo alemão Bert Hellinger. Bert Hellinger, desenvolveu a terapia de Constelação familiar ao longo de mais de trinta anos de trabalho dedicados ao atendimento de casais, famílias, indivíduos e grupos em geral. Percebeu que todo grupo, para manter-se coeso e sadio ao longo do tempo, sofre a ação de leis ocultas, e, que mesmo sem a consciência orgânica deste grupo acerca delas, entre outras palavras, para permanecer unido perenemente, o grupo necessita autorregular-se.
Hellinger categorizou três leis principais ocultas, Lei da pertinência, ou seja, “todo ser tem direito a pertencer”, Lei do ”equilíbrio entre o dar e o receber”, e a Lei da Hierarquia que se baseia na hierarquia do tempo, “onde os mais antigos vem primeiro e depois os mais novos”. Para Hellinger, o não reconhecimento e aplicabilidade de tais leis, criam ao longo do tempo, grande prejuízo nas relações, seja na esfera privada, como no caso dos casais e das famílias, como também em empresas, grupos, comunidades, e países em geral.
Na Alemanha a prática é difundida como terapia, e aqui no Brasil, vem ganhando notoriedade para além dos consultórios terapêuticos. A Justiça brasileira, por meio do Conselho Nacional de Justiça, tem asseverado o compromisso com a resolução dos litígios de formas alternativas, e também com a Conciliação e Mediação, anualmente promove a Semana Nacional de conciliação, impulsionando os operadores do direito e magistrados a buscarem tais meios, como forma de evitar o nascimento de uma demanda judicial ou para por fim, a um processo que se arrasta por anos. Assim, a dinâmica da Constelação Familiar, em 2012, foi utilizada pela primeira vez (dados do CNJ) numa Vara de família, na Comarca de Castro Alves, interior da Bahia, em ações de guarda de filhos, preponderantemente, o resultado foi incrível, chegando a 100% de casos resolvidos, quando as duas partes, autor e réu, participavam da dinâmica.
Desde 2014, já se tem utilizado a técnica para casos com menores infratores, que sabidamente, tem histórico de traumas no seio familiar, e embora não se disponha de dados confiáveis, tem-se conhecimento pela não reincidência em delitos, ou seja, estes menores, não voltam a delinquir após a resolução por meio da dinâmica da Constelação Familiar.
Como ocorre a dinâmica da Constelação Familiar na esfera da justiça? A sessão de Constelação Familiar inicia com uma palestra proferida pelo juiz sobre os vínculos familiares, as causas das crises nos relacionamentos e a melhor forma de lidar com esses conflitos. Em seguida, há um momento de meditação, para que cada um avalie seu sentimento. Por fim, inicia-se o processo de Constelação propriamente dito. Durante a prática, os envolvidos começam a manifestar sentimentos ocultos, chegando muitas vezes às origens das crises e dificuldades enfrentadas.
Os conflitos levados para uma sessão de constelação, em geral como o próprio nome já denuncia, versam sobre questões de origem familiar, como violência doméstica, endividamento, guarda de filhos, divórcios litigiosos, inventário, adoção e abandono. Mas a constelação pode ir além, como em situações que, numa visão periférica não estão diretamente relacionadas às questões familiares, como se vê na capital federal, onde a técnica vem sendo aplicada dias antes das tentativas de acordo em seis unidades do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), como no Centro de Conciliação e Solução de Conflitos (Cejusc) Superendividados, onde a servidora aposentada Marta (nome fictício), 65 anos, foi encaminhada há um ano, para saldar uma dívida que superava seu patrimônio.
Repetição de padrão familiar – Marta revela que a constelação foi fundamental para que pudesse identificar onde estava o problema familiar, que fazia com que ela repetisse os padrões de seu pai: quando estava bem financeiramente, arrumava um jeito de entrar no vermelho e contrair mais dívidas. Ela participou de três constelações e hoje já está com quase 60% da dívida paga.
Conforme dados do Conselho Nacional de Justiça, pelo menos 11 estados (Goiás, São Paulo, Rondônia, Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Rio Grande do Sul, Alagoas e Amapá) e o Distrito Federal já utilizam a dinâmica da “Constelação Familiar” para ajudar a solucionar conflitos na Justiça brasileira.
A Constelação familiar é sem dúvida alguma, muito mais que uma dinâmica que tem como propósito a resolução de um conflito a fim de evitar o nascimento de um processo judicial, ou a resolução de um processo judicial que já existe, ela eleva o indivíduo para que possa enxergar o drama do outro, e conseguir enxergar suas frustrações mais ocultas tendo a coragem de despir-se ao outro, disto resulta um momento ímpar de mais do pacificar uma relação, curar efetivamente feridas, por vezes, muito antigas. Trata-se de curar a alma daquela relação que adoeceu, a pacificação é somente o resultado desta cura.
A iniciativa do Poder Judiciário, protagonizada pelo juiz Sami Storch do Tribunal de Justiça da Bahia, inevitavelmente humaniza a relação que se estabelece entre a justiça e aquela que a busca, o indivíduo sente-se visto, acolhido, e sendo apreciado de forma integral. Ele sabe que não é mais um número, mas um ser humano que diante de suas imperfeições encontra ali uma oportunidade de curar uma relação quase sempre despedaçada pelos conflitos que o levaram até a justiça.
Ficou curioso para saber mais sobre a Constelação Familiar e como é utilizada na Justiça brasileira? Selecionamos alguns vídeos bem interessantes e confiáveis, com destaque para a boa matéria realizada pelo programa Fantástico.
https://g1.globo.com/fantastico/videos/t/edicoes/v/juizes-usam-tecnica-da-constelacao-para-resolver-conflitos-nos-tribunais/5868899/ https://g1.globo.com/mato-grosso/bom-dia-mt/videos/v/tecnica-da-constelacao-familiar-e-usada-para-resolver-conflitos-na-justica/4390401/ https://www.youtube.com/watch?v=-zu2jOxsqQ4 https://www.youtube.com/watch?v=q75Z3_cmTTA
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