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Conhecer a história do futebol feminino é essencial para a valorização do esporte

Vocês já devem ter me ouvido falar muito sobre o futebol feminino, por aqui. E não vou parar! Depois do último jogo da nossa Seleção Brasileira Feminina, neste domingo 22 de junho, o pedido da jogadora Marta será atendido. Iremos valorizar! Iremos falar sobre, iremos por os holofotes em vocês meninas, porque mesmo sem patrocínio, vocês chegaram onde chegaram, com garra e coragem. Mas para contar um pouquinho da história desse futebol que por muito tempo foi esquecido passo a palavra para Barbara Fonseca, como ela mesmo se diz: feminista e torcedora de arquibancada.

“Quantas coisas foram feitas por mulheres e que você não sabe que foram feitas por mulheres? No esporte não é diferente. Para começar a falar sobre a história do futebol feminino no Brasil, precisamos falar sobre o apagamento da história da mulher. Quantas vezes não escutamos a frase: “nossa, mas foi uma mulher que fez isso?” De uns tempos para cá, pipocaram notícias e pesquisas nos mostrando que muito do que conhecemos hoje foi inventado ou descoberto por uma mulher. Lembram da Ada Lovelace , que é considerada a primeira programadora do mundo? Sem ela você provavelmente não estaria lendo esse post.

Quando começamos a falar sobre futebol feminino no Brasil, não sabemos, por exemplo, quais foram os primeiros times formados por elas. Para Lu Castro, jornalista especialista em futebol feminino há treze anos, “nomear um time o primeiro é uma questão muito delicada, pois não temos nenhum registro sobre ele”.

Sabemos que os primeiro times surgiram nas duas primeiras décadas do século 20 na cidade de São Paulo,  mas até o momento não conhecemos nenhum arquivo que documente isso, apenas relatos de pessoas que viveram nessa época. Apenas a partir da década de 30 é que começamos a ter algumas anotações sobre essas mulheres. A pesquisadora Aira Bonfim, no seu trabalho de curadoria da exposição Contra Ataque! As Mulheres do Futebol, nos apresenta esses registros nas paredes do Museu do Futebol, no Estádio do Pacaembu, em São Paulo.

O Radar e o Araguari Atlético Clube são dois times sempre citados como os pioneiros, mas é importante dizer que eles não foram os primeiros, mas sim os que tiveram mais destaque dentro do contexto da época. O Araguari, de mesmo nome da sua cidade no Triângulo Mineiro, se destacou em 1958, numa época onde as mulheres eram proibidas de jogar futebol por uma lei que dizia: “Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país.” Mesmo com a proibição elas continuaram jogando até 1959 em vários estados do país, em campos oficiais e foram filiadas a Federação Mineira de Futebol.

O time de Minas representa a resistência de mulheres que formaram times e atuavam dentro do período de proibição. Foram oficialmente reconhecidas, tiveram reconhecimento da imprensa nacional da época e mostraram, mesmo que por pouco tempo, que as mulheres podiam e queriam participar da história do futebol no Brasil.

Depois da proibição, alguns times começaram a ter mais visibilidade, entre eles o Radar, time carioca que se destacou por ganhar a Taça Brasil de Futebol Feminino por seis anos seguidos, de 1983 até 1988. No ano seguinte, conquistou o Torneio Brasileiro de Clubes. Em 1990, com pouco apoio da mídia, pouca remuneração para as atletas e com campeonatos vazios, o time também deixou de existir.

Esses times não jogaram sozinhos, porém, por falta de acervo histórico, não temos acesso às histórias de muitos outros e nem das suas jogadoras. Além da história que é feita e registrada pela imprensa, as atletas também tem um papel fundamental para a preservação dos seus momentos e conquistas. Para que a nova geração de mulheres saiba contar a sua história e as das que vieram antes delas, é importante que a imprensa, as jogadoras e o público registrem esses momentos. Que a as meninas da base saibam que o que a construção da sua caminhada deve ser compartilhada, que uma caneleira, uma chuteira ou uma credencial, contam histórias.

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