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Comer, engordar e se amar

Era agosto e conheci um amigo que morava em Roma, conheci quando ele veio passar uma temporada em Porto Alegre, mas logo ele  retornaria para a capital italiana. Eu estava organizando minha trip pela Argentina e Chile, mas conversando com ele a vontade de conhecer aquela cidade começou a nascer, comecei a pensar na possibilidade de como seria, mas a ideia estava bem distante. Por uma ironia do destino eu estava lendo o livro Comer, Rezar e Amar, uma autobiografia de Elizabeth Gilbert. Cada relato da autora, e a decisão dela em viajar me inspirou muito. Afinal, ela decidiu que viajaria por aí para se reencontrar como mulher, algo que eu também buscava. Ela fala das massas, dos gelatos, das pessoas e uma vontade imensa de partir e descobrir tudo isso, bateu em mim. Meu amigo me convidou para conhecer sua bella citta e não posso dizer que não pensei duas vezes antes de dizer sim, pensei duas, pensei dez vezes, como qualquer ser humano sempre tenta racionalizar tudo, “quanto vou gastar’, ai vou sozinha”, “ai que medo”. Mas o que eu menos estava buscando nessa época era isso, eu queria me permitir, me desafiar.

Convite aceito, passagem comprada! Consegui agendar minhas férias no trabalho e me organizei para ir e no aeroporto caiu a ficha. Eu estava indo para Roma! Viajei em dezembro de 2013, até eu embarcar estava no que chamo de mood, no automático, eu ainda não sabia muito o que encontraria e o que aconteceria comigo lá, estava um pouco ansiosa, mas incrivelmente tranqüila (diferente das próximas viagens, que lá na frente contarei). Quando desembarquei era final de tarde, um lindo por do sol me esperava e aí sim a ficha desmoronou! Cheguei to em Roma! Encontrei meu amigo, e ele foi me mostrando cada cantinho daquela linda cidade, cheia de histórias e alegria. Fiquei dez dias, comendo muita carbonara, vinho e gelato! Caminhava pelas ruelas admirando a arquitetura e me redescobrindo em cada esquina. Ele me ensinou a me virar pela cidade, já que trabalhava o dia todo, pega um metro aqui, outro ali, uma grazie mille aqui, buongiorno acolá! Eu estava muito feliz com toda aquela descoberta. Os italianos são realmente muito felizes, as mulheres lindas e elegantes caminham pelas ruas com os seus casacos estilo sobretudo levando um pedaço de pizza na mão e um café na outra, isso às 16h da tarde. Sem contar nos homens, sim a fama de galanteadores é justa, elegantes estão sempre dispostos a te convidar para uma taça de vinho. Diverti-me, conheci pessoas incríveis, lugares fantásticos. Me abri, me permiti. Tem um trecho do livro Comer, Rezar e Amar, em que a autora se despede da cidade que acho que foi exatamente o que senti e agora eu estava pronta para ir para Argentina e na seqüência, o Chile de Violeta Parra. Eu estava inteira novamente.

“Cheguei à Itália abatida e magra. Ainda não sabia o que eu merecia. Talvez eu ainda não saiba totalmente o que mereço. Porém, o que sei é que, ultimamente, eu me recuperei – graças à alegria de prazeres inofensivos – e tornei-me alguém muito mais intacto. A maneira mais fácil, mais fundamentalmente humana de dizer isso é que eu engordei. Existo mais agora do que há quatro meses atrás. Deixarei a Itália perceptivelmente maior do que quando cheguei aqui. E irei embora com a esperança de que a expansão de uma pessoa – a ampliação de uma vida – seja realmente um ato de valor neste mundo. Mesmo que essa vida, só dessa vezinha, por acaso seja apenas minha e de mais ninguém.” Comer, Rezar e Amar.

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