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Coluna Partida


Quebrada e inteira. Azeda e doce. Estável e instável, não necessariamente nessa ordem. Fraturas expostas e dores tão profundamente guardadas que até esqueci que as tinha guardado. Medo do vulnerável e do sentimental... Tudo em mim " brilha e queima".

É doce e amargo. Forte e frágil.


Corajosa e assustada, faz sentido? Quebrada ao meio. Ossos dilacerados pela dor que fez as vezes de um corrosivo. Ela venceu desta vez! " Apenas pequenas punhaladas" como no quadro de Frida. Daqui de cima, como se estivesse num plano superior, a imagem que tenho de mim é de uma tela em branco. Não um branco que indica uma construção. Não! Esse branco é de inércia, de paralisação, de medo.

- Medo do futuro, medo de mim agora, nessa nova versão, medo do vazio, medo da mimética dos dias. Eu lá debaixo, deitada na cama, olho para minha versão lá de cima, que flutua num lugar místico e que se posta de bruços, observando a minha versão real, que está deitada olhando pro teto - ou pra mim mesma- .

- Eu, em carne, osso e espírito. " Apenas algumas punhaladas", o mantra de Frida que de certa forma norteia o meu sol e a minha lua. Renascer - ou descamar - é como ter feridas em carne viva que queimam tanto que até a água que cai sobre o meu corpo faz tudo doer e arder. Olho para elas e somente eu consigo enxergar o vermelho que verte e jorra de mim em mim.

É como renascer a cada banho longo e demorado. É como me conectar com a minha essência. Quebrada ou desmontada?! Por que a manchinha nos meus olhos (aquela que mamãe amava) me dá essa sensação distante de que aquela versão minha que vive naquele lugar flutuante ainda vai me salvar daqui? Será que aquela minha versão é como um prenúncio de mim mesma? Em outro tempo, outra dimensão de mim?

- Renascer me dá medo e, ao mesmo tempo, me anima. Quebrada ou desmontada ? O reflexo no espelho pergunta. Os vergões que me atravessam ardem me lembrando que por enquanto estou em parte quebrada, em parte desmontada. Os sorrisos que eu dou, aqueles que fazem a barriga doer, me lembram que o meu manual está em algum lugar, basta eu lembrar onde escondi. " Espero que minha partida seja feliz, e espero nunca mais regressar"

Frida Kahlo Lembro que uma vez, ainda criança, acordei chorando no meio da noite, após ter tido um daqueles pesadelos terríveis. No meu sonho, eu tive uma morte trágica e, como criança, aquele sonho me apavorou.

Mamãe, em sua sabedoria ancestral, me abraçou e disse: " A morte não significa algo ruim, ela pode representar um recomeço. É como morrer para renascer".


De novo: " Espero que minha partida seja feliz, e espero nunca mais regressar"

Bom renascer, irmãs!


Por Amanda Alves

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