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Boas festas. Feliz Ano Novo.

Marlene Neves Strey

Estamos nos últimos suspiros do ano. Dentro em breve, estrearemos um ano novinho em folha, com uma grande expectativa de que seja bom, traga coisas boas e bons acontecimentos. Recebemos votos mais ou menos parecidos a todo instante nesta época. Mensagens por whatsap, por messenger, por e-mail, pelo telefone. E, pasmem, até por cartões com lindos desenhos, vindos pelo correio normal, um hábito francamente em desuso frente às novas tecnologias. Quando encontramos vizinhos, colegas, parentes, amigos e até desconhecidos, como atendentes, balconistas, garçons, também nos desejamos uns aos outros boas festas e que tudo de bom venha no próximo ano.

Existe uma famélica necessidade e um sincero desejo de que, com o ano novo, as coisas irão melhorar. Melhorar em que sentido? Bem, isto tem a ver com as retrospectivas que fazemos sobre o ano que está acabando. Nos meios de comunicação abundam essas retrospectivas, em que são condensados, em poucos minutos, tudo de importante e marcante que aconteceu. Coisas boas, como invenções que prometem dar mais qualidade à vida humana e animal. Conquistas intelectuais e esportivas. Descobertas que trazem esperança para o futuro. Algumas retrospectivas trazem alegrias para alguns e tristeza para outros. O time do coração que foi campeão. O time do coração que “morreu na praia”. O candidato favorito que ganhou as eleições. O candidato favorito que perdeu as eleições. Enfim, provavelmente não existe muita coisa que seja vista como boa por todo o mundo. Ou má para todas as pessoas, embora desastres aéreos, catástrofes ambientais, quase sempre, unanimemente, provoquem lástima e medo.

Nesse clima de revisão, começam a aparecer as estatísticas sobre os acontecimentos. Infelizmente, no que diz respeito às mulheres , os números continuam a ser maioritariamente não bons. Apesar das leis, estratégias de enfrentamento e esforço conjunto de muita gente, a violência de gênero continua devastando a vida das mulheres. Nas últimas semanas, as notícias não param de mostrar abusos, maltratos e danos de todos os tipos. Em geral, são pessoas, não só, mas principalmente, homens que, de posse de algum poder, pequeno ou grande, usam e abusam das vulnerabilidades femininas que estão ao seu alcance.

As notícias nos mostram mulheres que buscaram ajuda de religiosos (seja de que tipo for), com a esperança de obter alguma graça que as ajudasse a superar seus problemas. Outras buscaram médicos, conselheiros, parentes. Muitas, mas muitas mesmo, receberam abuso e violência disfarçados de ajuda espiritual, científica ou afetiva. Se houve dúvidas e desconfiança, que certamente houve, mesmo sem ser completamente reconhecidas, suas posições de desigualdade e, em certos casos, de bastante inferioridade, não permitia o reconhecimento do abuso, em alguns casos. Em outros, apesar do reconhecimento, a impotência não permitia a denúncia.

Muitíssimas mulheres foram espancadas e muitas outras foram mortas. As notícias das últimas semanas mostram isso. Parece que muitos homens, frente ao final do ano, também resolveram apressar o desenlace de seus ódios e frustrações com as mulheres. Algumas ações são francamente demenciais, como o caso do homem que matou a própria filha para se vingar da mulher.

É uma verdadeira infelicidade, em uma época em que se deseja paz e amor, tenhamos os noticiários inundados de violência, ódio e morte. E isso se não pensarmos naquilo que não chega aos noticiários. Na violência diária de quem sofre em silêncio esperando que sua submissão não piore as coisas. Podemos tentar esquecer, pois, afinal de contas, isso não nos diz respeito. É só notícia do jornal, da televisão. Lamento discordar. Se acontece com uma mulher, de certa maneira, atinge a todas as mulheres. O lema “nenhuma a menos”, deveria ser o mantra de todas as mulheres. Estar alerta ao que passa a uma mulher, nos permite, eventualmente, poder fazer alguma coisa para superar as violências. Quem sabe não estaremos salvando nossa própria vida no futuro.

Que o ano de 2019 nos permita avançar no combate às desigualdades sociais e ao enfrentamento das vulnerabilidades humanas, especialmente as femininas. Feliz Ano Novo.

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