top of page

Betty Davis: autonomia, estilo e coragem de uma das maiores vozes do funk


O espírito rebelde, libertário, provocador e criativo que fez da cantora e compositora estadunidense Betty Davis uma das mais importantes vozes na modernização da música negra dos anos 70 ressoam até hoje, a partir de sua obra, mas também de sua vida, que se encerrou no último dia 9 de fevereiro. Por décadas, a artista nascida como Betty Gray Mabry em 6 de julho de 1944 foi preguiçosamente lembrada como ex-mulher de Miles Davis, de quem herdou o sobrenome, mas os últimos anos trouxeram à tona e aos ouvidos a verdade que aponta à obra de Betty como um pioneiro ponto de afirmação e revolução feminina e feminista, de excelência musical, coragem e originalidade.

Betty Davis era uma mulher negra cantando de forma corajosa, franca e firme, aberta e sedutora sobre sexualidade, erotismo, amor, desejo, afirmação feminina – em quadro que talvez explique tanto o fato de sua obra não ter alcançado o sucesso comercial que merecia, quanto a dimensão da influência que trouxe às gerações seguintes, apesar do fracasso de vendas. Ao mesmo tempo em que a carreira de Davis era decretada como encerrada, artistas como Prince, Madonna, Erykah Badu e tantas mais se faziam possíveis graças ao seu legado: ao caminho que ela corajosamente ajudou a iniciar.


“Ela deu início a tudo isso. Ela simplesmente estava à frente de seu tempo”, afirmou o próprio Miles Davis, em sua autobiografia, a respeito do impacto do trabalho de sua ex-mulher. Para além do que viria, ela também influenciou profundamente seus amigos mais célebres e contemporâneos, como Jimi Hendrix, Sly Stone, além, é claro, do próprio Miles. O relacionamento entre os dois foi curto, tendo durado pouco mais de um ano, mas o impacto de Betty sobre a obra do maior nome da história do Jazz duraria para sempre: foi ela quem apresentou a Miles justamente os trabalhos de Jimi Hendrix e da Sly & The Family Stone, sugerindo tais sonoridades como excitantes possibilidades de renovação para a obra de seu então marido.


A obra de Betty hoje se destaca como um marco fundador da afirmação poética, política, estética e ética da personalidade, sexualidade e determinação feminina e negra na música pop – sem pedir licença ou desculpas, com coragem e qualidade de quem escreveu e arranjou quase todo seu repertório, dizendo e soando exatamente como quis.


Recentemente, antigas gravações inéditas e raras faixas recentes – além, é claro, de seus três discos efetivamente lançados nos anos 70 – reluzem como partes de uma obra tão original quanto fundamental, formando uma música crua e dançante, corajosa e elaborada, divertida e rascante que faz soar a marca inequívoca deixada por Betty Davis.


A artista nos deixou esse ano, aos 77 anos. Porém jamais será esquecida. Suas obras e coragem ainda ecoam e inspiram gerações.

Comments


bottom of page