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As mães de Bernardo

Na semana que passou, foi realizado o julgamento do assassinato do menino Bernardo, ocorrido há quatro anos e que comoveu os moradores da pequena cidade de Três Passos-RS. O mais incrível de toda essa história é que o pai e a madrasta foram os mentores dessa crueldade. Após terem realizado o crime, ainda tiveram a desumanidade (se é que podem ser considerados humanos) de comemorar até a madrugada, segundo o relato dos promotores. Estes, ao finalizarem suas evidências sobre o crime, suplicaram por justiça.

As mães de Bernardo, que cuidavam do menino enquanto ele perambulava pela cidade, procurando um lugar para dormir ou apenas um abraço terno, pois lhe faltava atenção, se uniram para exigir justiça. Por não conseguirem perceber o risco que o menino corria, sentem-se culpadas por não terem impedido tal crime.

Além delas, outras tantas mães, assim como eu, se envolveram com a história de Bernardo nesses últimos dias. Quando pude, assisti aos depoimentos, observei a fisionomia dos réus, envelhecidos pelo tempo e pelo desgaste de uma vida perdida, pois nenhum deles terá sua vida de volta, todos estarão marcados para sempre. Ao surgir na tela o menino dentro de um saco, encolhido em posição fetal – seu destino final –, fico pensando se ele sentiu alguma dor, se percebeu em algum momento que algo estranho poderia estar acontecendo com ele, entre outros tantos questionamentos que irão ficar sem resposta.

Assistir à condenação dos réus foi um certo alívio, mas não trará Bernardo de volta, apenas aliviará a angústia dessas mães que oram por ele, que sentem sua falta, que pensam que poderiam ter feito mais. Ontem, após a leitura pela juíza dos atos cometidos por cada um e o tempo de prisão, os moradores dessa cidade fizeram uma despedida simbólica e foram até a casa de Bernardo, para retirarem as faixas que clamavam por justiça. Ao mesmo tempo, rezavam para que ele pudesse enfim descansar em paz ao lado de sua mãe e avó.

Fique em paz, Bernardo, aqui foi feito o impossível por justiça.

Ótima semana!

Rosane Machado

Mestranda em Estudo sobre as Mulheres, Gênero e Cidadania pela UAB de Portugal.

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