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As famílias monoparentais femininas e seus impasses

Marlene Neves Strey

Houve época em que ser mãe solteira (ou divorciada, separada) era um tremendo problema. De certa forma, ainda continua assim. Mudam os costumes, aceitam-se coisas que antigamente nem se podia pensar, mas, de maneira às vezes sutil, às vezes nem tanto, certas normas e estereótipos familiares continuam disfarçadamente comandando a maneira como pessoas e grupos encaram certas circunstâncias da vida.

No caso em que estou falando agora, as mulheres que têm filhos e filhas e são praticamente as únicas responsáveis por eles/elas. Olhando ao nosso redor, escutando amigas e familiares, lendo pesquisas sobre o assunto, vemos que as vidas dessas mulheres são muito diferentes entre si, pois existem fatores que as diferenciam: idade, classe social, nível educacional, etnia, preparação profissional (ou não), localização geográfica e assim por diante.

No entanto, o que as reúne em um grupo mais ou menos parecido é aquela sensação de família parcial, incompleta. Sempre haverá alguém a dizer: A falta que um pai faz… Ou uma notícia no jornal ou os resultados de uma pesquisa que chegam à conclusão que filhos criados sem pai tem piores resultados que filhos de família de pai e mãe. Isso, de alguma maneira pode levar a sentimentos de culpa, menosvalia, frustração, vergonha e solidão. Mesmo naquelas mulheres que estão obtendo ótimos resultados sozinhas e deveriam sentir orgulho de sua atuação como mães e chefes de família, podem se sentir em algum tipo de falta.

Hoje é muito mais fácil uma mulher decidir-se por uma produção independente, por sentir-se mais livre em relação aos padrões sociais e familiares tradicionais. Ser mãe solteira é uma das possíveis escolhas na vida. No entanto, nem todas são mães solteiras por opção. Às vezes se trata de uma gravidez não planejada, uma separação , um divórcio. Ficar sozinha cuidando dos/as filhos/as provavelmente não foi algo desejado, mas algo que aconteceu.

E daí começa a obrigatoriedade de assumir a responsabilidade pela vida doméstica e familiar sozinha ou com alguma ajuda de uma mãe, uma avó, uma amiga. Isso pressupõe pressões de todos os tipos, internas e externas. Além das questões emocionais, existem as de ordem prática, como sustentar a família, cuidar das crianças, levar ao colégio e acompanhar seus deveres escolar, cuidar da saúde. Essa mãe trabalhava antes? Seu salário é suficiente sem fazer horas extras? Aliás, existe a possibilidade de aumentar a renda de alguma maneira? Como ficam as crianças enquanto ela trabalha? Ser responsável sozinha pressupõe muita pressão.

Então, não é fácil mesmo, mas as mulheres enfrentam esse desafio. A questão fundamental é como o entorno dessa mulher vê, ajuda ou oprime a sua atuação. A cultura familiar, a cultura da sociedade onde ela vive vai poder exercer efeitos negativos ou positivos na sua relação consigo mesma, com suas responsabilidades, com seus filhos/as. Enquanto existirem estereótipos estigmatizantes sobre as famílias “parciais”, as famílias “desestruturadas”, as famílias de mulheres, qualquer resultado pode ser visto como não bom, pois sempre se partirá do princípio que aquela família não corresponde ao modelo ideal. Por isso as pessoas e a própria cultura esquecem todas aquelas famílias que sim correspondem ao modelo e que tem péssimos resultados em algum sentido. Cada mulher, cada família deveriam ser reconhecidas em suas circunstâncias únicas e suas infinitas possibilidades.

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