Clarissa é bem humilde no livro dela quando diz no capítulo 1 "não voltei do deserto repleta de sabedoria", voltou sim. Até então, não tinha encontrado nada em Clarissa que tinha me dado dúvidas sobre a sua coerência, até que cheguei no capítulo 5.
Confesso que a minha relação com Clarissa mudou, era um amor idealizado até que...
Nesse capítulo, Clarissa fala sobre amor verdadeiro e descreve como se manter em um relacionamento amoroso. Tema tão valioso pra um momento de relações que já não são nem mais líquidas como trouxe Bauman, evaporaram e se espalham pelo ar ou pelo wireless...
Dentre muitas frases profundas e extremamente sensatas, Clarissa faz duas colocações ao longo do capítulo que confundem um pouco a compreensão. Quero deixar claro que essa é apenas a minha interpretação e que tenho - quase - certeza que Clarissa concordaria comigo no acréscimo de algumas explicações.
A primeira frase que quero discutir é quando no conto da mulher esqueleto ela coloca: "devemos permanecer (na relacao) mesmo quando todo nosso corpo todo nos pede pra ir embora.” No capitulo do Barba Azul ela diz algo do tipo: quando todo corpo pede pra ir embora, vá embora. Então afinal Clarissa, vai ou racha? Lutar ou fugir?
Como o barba azul é um capítulo anterior a esse, ouso dizer que Clarissa presume que nessa hora já estamos avisadas e compreendemos que o que nos aparece no conto 5 como protagonistaa e amantes (o pescador e a mulher esqueleto) não são o Barba Azul. Pra deixar mais claro, faço uma complementação a frase de Clarissa: mesmo aterrorizados de medo do amor e da entrega total do corpo, com aquele frio na barriga gigantesco, nao podemos entender todas as "sombras" ("defeitos") que identificamos nas pessoas como ameaça fatal, batendo em retirada.
No mundo relacional das últimas décadas, somos quase todos animais ariscos que a qualquer ameaça a primeira escolha é fugir.Porém, nem toda força negativa do outro terá poder destrutivo nas nossas vidas, as vezes é justamente o que o outro tem de diferente que faz a saúde da relação.
Apenas vão ser aniquiladores de alma (barbas azuis), aqueles que utilizarem de suas sombras no intuito (nem sempre consciente) de maltrato físico ou psicológico, incidindo nesse erro mais de uma vez ou repetidas vezes, mesmo quando você já sinalizou o que te incomoda.
Passamos de amor idealizado pra amor verdadeiro com a própria autora: amamos demais a Clarissa pra ver essa frase dela como um erro, como uma sombra destruidora de almas, vamos passar por essa juntos sem traumas pro próximo capítulo. Num outro texto trago a outra "falha" de Clarissa. Sem cancelamentos, às vezes tudo que se precisa é um pouco mais de diálogo.
Juliana Wesendonk Soeiro
Psicóloga - CRP 07|26220
Contato: 51. 989264043
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