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As Cordilheiras que nunca vou esquecer parte II

Ainda no ônibus e descendo um caracol de montanhas, eu não conseguia parar de olhar aquela vista, as cordilheiras em minha volta. Estávamos descendo a Rodovia Paso Los Libertadores, que liga Mendoza a Santiago do Chile, nosso destino final. Eram quase 30 curvas de descida até chegar à aduana onde desceríamos para abrir mochila, e essas burocracias. Eu e a Carol estávamos de manga curta, afinal era janeiro e o calor argentino era de matar, conforme estávamos descendo meu coração disparava cada vez mais, porque não é todo dia em que se pode ver e quase sentir de perto essas montanhas gigantescas poderosas. Sim, elas carregam uma energia tão grande que se pode ler e ouvir muitos mitos e lendas a seu respeito, como o caso da lenda do Imortal Condor dos Andes, que na mitologia Inca quando começa a se sentir velho, que suas forças se esgotam, pousa no pico da mais alta montanha, dobra suas asas, recolhe suas pernas e se deixa cair, até atingir o fundo dos rios. Esta morte é simbólica, já que através deste ato, o Condor retorna ao ninho nas montanhas, onde renasce em um novo ciclo, uma nova vida. O Condor também era o mensageiro de bons e maus presságios, e também responsável pelo nascer-do-sol, já que era ele que levava a estrela acima das montanhas todas as manhãs, dando início o ciclo da vida.

No ônibus mal conseguia fotografar as montanhas tamanha hipnose que elas me causaram. Finalmente paramos na Aduana e descemos, que susto levamos, estava quase zero graus. Tivemos que voltar para o ônibus e pegar as cobertas das poltronas para nos aquecer, como éramos quase as únicas estrangeiras o povo já estava acostumado e levavam consigo seus ponchos e casacos. Depois de uma hora de revista tudo certo, já poderíamos seguir, mas o motorista nos avisa: “agora só vamos parar no Chile, ou seja, daqui há oito horas. Se quiserem comer, tem uma barraquinha logo adiante que vende comida. Obrigado.”

Eu e a Carol nos olhamos e pensamos, bem se não comermos nada agora vamos falecer de fome no meio da viagem. A barraquinha eram bem as que se veem nos filmes, no meio do deserto, que não se sabe como ela para em pé tamanha ventania.  O medo de comer algo e não nos fazer bem nos preocupava um pouco, mas para mim, estar ali imersa naquela cultura mágica, vivendo tudo aquilo, não me deixaria passar mal (estava focada nisso). Pedimos uma torrada e um café. Sentadas no chão, porque não havia mesa, eu tomava meu café/almoço contemplando aquela paisagem, quase não conseguindo comer por causa do vento, fechei os olhos e assim fiquei, comendo, ouvindo e sentindo as montanhas. Eu estava inteira e em oito horas chegaremos em Santiago do Chile. Que o Condor nos acompanhe.

Por Gabi Oliveira

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