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As coisas só mudam quando as questionamos!

Dia desses ouvi a seguinte frase “Precisamos falar sem medo de ser subalternizados… O medo adoece”. Foi num desses momentos automáticos do nosso dia, no meio do caos e da correria, no meio das conversas de elevador e dos fones de ouvido altos o suficiente para não ter que ouvir mais nada além do seu mundo.

Foi num dia desses, automáticos e absurdamente normais, que essa frase ecoou dentro de mim.

O que ela queria dizer com “falar sem medo”? Foi o que eu pensei aquele dia inteiro. E então, eu entendi que falar sem medo significa se despir das coisas que nos aprisionam, se despir das ressalvas, das restrições. E, no meu ver, quando penso no ato de falar, vou além da palavra falada, mas penso também na palavra pensada, sentida ou transbordada de outras formas.

 As palavras, conforme dito por Albus Dumbledore, “São nossa fonte inesgotável de magia” (pra quem não pegou a referência, ele é o diretor da escola de bruxos Hogwarts, da franquia Harry Potter). Sempre que penso no poder das palavras me vem à cabeça essa frase de Dumbledore, porque as palavras são isso, são mágicas, potentes, transformadoras.

Afinal, já pararam pra pensar nas palavras que emitimos para nós mesmos nos nossos diálogos internos? (Ok, eu sou do time que fala consigo mesma). Já refletiram sobre a potência das palavras que dizemos para nós e para as pessoas ao nosso redor?

Quando penso nisso me vem à cabeça um dos muitos semestres da faculdade em que eu não sabia se teria condições financeiras de continuar. Durante os 4 anos de graduação nenhum semestre foi fácil financeira ou academicamente falando… Por muito tempo eu só sabia proferir palavras duras para mim mesma. Eu fui minha pior carrasca naquele período e confesso que por vezes glorifiquei esse caminho difícil. Pensava comigo mesma: “Nenhum fardo é pesado demais. Eu aguento. Eu sou forte. Vou sair mais vitoriosa ainda.”

De fato, eu sai muito mais madura da faculdade, aprendi mais sobre mim e sobre os outros, entendi meu lugar nesse mundo louco, aprendi a conviver com pessoas diferentes e parecidas comigo. Mas também perdi muito tempo tentando ser perfeita, tentando ser a própria personificação de uma guerreira Axânti ou de uma Dora Milaje, ainda não sei bem qual das duas.

 Eu perdi muita coisa bacana  naqueles 4 anos. Perdi de acompanhar o meu crescimento, perdi de aproveitar o fato de estar naquele lugar que foi idealizado por mim desde muito pequena, quando ali pelos 6/7 anos de idade passava pela PUC e pensava que um dia estaria ali como uma universitária.

Eu perdi tempo demais tentando ser algo que nenhuma de nós jamais conseguirá ser: Perfeita!

E como essa constatação veio até mim? Por meio dessa frase dita por essa pessoa estranha, mas que fez muito sentido pra mim, principalmente nesse processo de autoconhecimento e ruptura.

Eu senti que precisava – e preciso- romper com muitas coisas para poder mudar tantas outras que ainda estão por vir… E então eu me perdoei!

Eu me perdoei por ter uma ideia equivocada do que é ser alguém destemido.

Eu me perdoei por normalizar as dificuldades dessa minha trajetória, achando que aquilo era necessário para o meu crescimento.

Eu me perdoei por não viver aquela fase tão boa que foi a graduação de um modo mais leve. Afinal, será que aquela nota 8 era tão baixa assim ou eu que precisava me reafirmar e me provar o tempo todo?

Eu me perdoei por não apreciar as coisas simples da vida, como um dia de praia, um almoço em família, uma risada daquelas bem altas, de doer a barriga.

Eu me perdoei por achar que para ser válido,  tudo devia ser duro, difícil e árduo.

Eu simplesmente me perdoei e entendi que as coisas só mudam quando nós estamos dispostos a confrontar nossos medos e a questionar as nossas convicções. Afinal, se o mundo muda o tempo todo por que nós não podemos mudar junto com ele?

Eu entendi como tem sido importante nesse meu processo desmistificar a ideia de que toda mulher é uma fortaleza, principalmente desmistificar o mito criado em torno da força da mulher preta.

Eu quero viver num mundo em que eu não precise ser forte o tempo todo. Quero ser apenas eu, nas minhas variadas facetas, vivendo de um modo simples e desarmada.

Nesse sentido, entendi que a trajetória das minhas ancestrais foi sim sofrida, árdua e conflitante… Entendi que elas precisavam vestir as suas armaduras de guerreiras Axântis para sobreviver, mas que a luta delas em parte também foi para que a minha trajetória ( e de tantas de nós) não precisasse ser tão tortuosa e difícil.

Entendi que reverenciar essas mulheres fortes faz parte desse processo, mas que eu quero construir uma história mais leve pra mim. Quero um futuro mais florido, quero uma vida mais lenta, mais vivida e menos sofrida.

Nessa imersão, percebi que eu não quero que o(s) meu (s) futuro filho(s) tenha que passar por uma trajetória acadêmica tão difícil como a minha… Quero que ele ou ela possa viver essa fase da vida como eu gostaria de ter vivido, mas que não tive a maturidade de entender e viver.

Nessa cura de mim por mim, entendi a icônica frase da minha mãe, que foi escancaradamente copiada da icônica personagem Scarlett O’Hara “Amanhã eu penso nisso” … Era o que ela sempre dizia com um sorriso debochado no rosto. Se eu fechar os olhos posso vê-la sorrindo do modo mais despretensioso de todos ao me dizer que a vida é o instante, o agora.

Acho que o que ela sempre quis me dizer era que eu não precisava viver armada o tempo todo.

(Obrigado mãe, agora eu sei!)

Finalmente eu entendi que as coisas não precisam ser sofridas e difíceis para valerem a pena. Definitivamente não! A vida já é dura ao natural, então porque temos a necessidade de validar nossa existência fazendo com que ela seja mais difícil ainda? Por quê? Pra quem?

Nesse novo ciclo, nessa nova jornada, eu quero dar valor ao calor do sol na minha pele, ao toque das gotículas de chuva, sem pressa ou sem a preocupação com o cabelo que vai molhar… Quero me priorizar priorizando uma coisa por vez, quero me importar com o que realmente importa, quero ressignificar tudo, começando pela ruptura de tudo o que eu acreditava como certo, mas que na verdade era apenas eu, assim como vocês, reproduzindo um sistema ou uma linha produção em cadeia automática, massacrante, exaustiva.

Eu acho que iniciei minha revolução interna, me reprogramei, finalmente me conheci depois de 29 anos de convivência comigo mesma… Que louco não?

Eu finalmente entendi que esse processo faz parte da minha cura e da cura das minhas dores, que são muitas. Esse processo de entender que a minha trajetória daqui pra frente não precisa ser sofrida, pesada e exaustiva tem me feito descobrir coisas sobre mim que eu nem mesma sabia.

Vamos todas dizer em alto e bom som “Eu me perdoei”!?

Ps: Para minha “pepinho”, desejo que você encontre bem mais rápido do que eu sua constelação interna, para que viva e brilhe como a estrela que você é. Se perdoe e se liberte. Viva o agora!

Por Amanda Alves Rodrigues

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