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Amor Líquido

Fiz uma releitura do livro Amor líquido de Zygmunt Bauman, em que ele analisa não só as relações amorosas como também as relações sociais como um todo, e me deparei novamente com a realidade das relações. O termo “líquido” usado pelo autor refere-se ao quanto as relações são efêmeras, podendo escorrer pelas mãos com facilidade e acabar sem razão. As pessoas não precisam mais sentir o toque do outro, nem ao menos sua presença se faz necessária. Basta enviar uma foto ou um vídeo de poucos segundos e está feito o contato. Mesmo distante, as pessoas se comunicam e conseguem estabelecer encontros superficiais que, muitas vezes, não evolui para algo mais envolvente. Existem muitas possibilidades, e antes mesmo de encerrar o encontro virtual, outro chamado desvia a atenção.

O dicionário deveria trocar o significado da palavra “amor”, pois hoje é algo tão banalizado que não tem mais o sentido de antes. Basta um encontro casual e logo denominamos de uma noite intensa de amor. Assim como dizer “eu te amo” parece verdadeiro vindo da profundeza da alma. Talvez as pessoas estejam precisando tanto ser amadas que falam sem sentir, na ânsia de encontrar alguém que realmente possam se refugiar e vivenciar um longo romance com o real significado da palavra.

As pessoas têm urgência de serem felizes, mas o tempo em que vivemos gera insegurança, pois nada é certo ao ponto de proporcionar tranquilidade. Desejam experimentar a felicidade com um(a) parceiro(a), mas como estabelecer essa união se os indivíduos não conseguem se apropriar de si mesmos nesse contexto apenas virtual.

Talvez surja algo novo, um tipo de encontro que faça realmente crer no amor e na possibilidade de vivê-lo com gratificação. Mas até lá, como irão se estabelecer os encontros?

Espero que o amor volte a ser sólido, nem líquido, nem gasoso, para o bem de todos nós.

Por Rosane Machado

Mestranda em Estudo Sobre as Mulheres, Gênero, Cidadania e Desenvolvimento pela UAB de Portugal.

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