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“Agora ou na hora de nossa morte” e “Até que a morte nos separe”.

Duas exposições em Porto Alegre abordam o tema do feminicídio e vale a pena conferi-las.

Até o final de abril, o Palácio da Justiça abrigará a exposição “Agora ou na Hora de Nossa Morte”, com relatos de feminicídios em tramitação na Justiça Gaúcha. São relatos cruéis de violência que mostram a importância de continuarmos debatendo o tema. Combater o feminicídio é combater as visões estereotipadas de gênero, é envolver homens e mulheres numa nova cultura que não permita qualquer manifestação de violência, e que seja construída com base na equidade. Além destes relatos, estão expostos dados atualizados da violência contra a mulher no estado.

Mulheres que fazem parte do Projeto Borboleta, sob minha coordenação e da Dra. Madgéli Frantz Machado, Juíza do 1º Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, foram visitar a exposição, recebidas pela Desembargadora Iris Helena Medeiros Nogueira, que afirmou a importância de dar voz às vítimas de feminicídio. Uma das integrantes do projeto disse que nunca imaginou entrar num lugar como aquele (referindo-se ao Palácio da Justiça); outra, ficou impactada ao ver a crueldade dos homens que, como predadores, não poupam os filhos, ou simulam o suicídio da mulher. Entre outros relatos: “eles são tão corajosos quando nos batem, mas tão covardes na frente do Juiz” e ”ele mentiu que foi acidente”. Muitos foram os depoimentos sobre a desqualificação da palavra delas, tentando fazer crer que mentiram e/ou eram loucas.

Vendo que muitas, mesmo em risco, retornaram ao convívio com os companheiros, lembraram a importância da cultura que as prepara para a submissão, mesmo às custas da destruição de seu potencial e, por fim, de sua vida. Pequenos desrespeitos à individualidade da mulher, sob pretextos mais diversos, contribuem com a cultura do machismo e do feminicídio, fruto da objetificação da mulher. Ao sairmos dali, fui mostrando às mulheres os espaços que podiam visitar, como a Biblioteca Pública. Me chamou atenção que muitas não conheciam estes lugares, referindo que passavam por estas ruas e não imaginavam que eram espaços públicos.

No Centro Cultural CEEE, a artista Graça Craidy expõe (também até o final de abril) a mostra “Até que a morte nos separe”. Os quadros retratam feminicídios inspirados nas fotos retiradas da mídia. A artista nos expôs sua visão de mundo e conheceu as histórias das mulheres e sua luta para sair de relacionamentos abusivos e do controle dos homens. Segundo ela, temos a obrigação moral de dar visibilidade a esta triste realidade. Enquanto as mulheres não gozarem de liberdade nas suas escolhas não atingiremos a igualdade entre homens e mulheres.

Para nós, foi uma tarde enriquecedora e fortalecedora. Além de ampliarmos nossa rede, que entra nos espaços culturais e de justiça, mostrou às Borboletas que é possível sair do lugar de vítima e alçar outros voos, ampliando sua visão de mundo.

Sobre as exposições:

Agora e na Hora de Nossa Morte – Palácio da Justiça, Praça Marechal Deodoro, 55, Centro Histórico, Porto Alegre. Aberto de Segunda à sexta, das 9 às 18 horas, telefone 32107000.

Até que a Morte nos separe – Centro Cultural CEEE, Rua dos Andradas, 1223, Centro Histórico, Porto Alegre. Aberto de terça à sexta, das 10 às 19 horas, e aos sábados, das 11 às 18 horas, telefone 32265342.

 Por Ivete 

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