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“A verdadeira dor não assoa o nariz”

Ouvi essa frase do Nelson Rodrigues em algum lugar e pensei, é exatamente isso. Quando está doendo, machucado e a ferida está aberta, o sujeito não tem tempo de pudores, de vergonhas, de receios.

O sentimento de dor profunda não é para ser vivido com cabelo penteado, maquiagem no lugar, frases de efeito e comida fit. A dor é dor: desconfortável, desagradável, estranha, nojenta, voraz e frágil. Necessita de colo, empatia, sorvete direto do pote, respeito e escuta. Não se importa com unha mal feita.

Os conselheiros de plantão vão discordar, pois sempre sabem o que fazer com ela. De preferência querem chacoalhá-la e mandá-la para o espaço rapidinho… Eles te fazem botar uma roupa bem bonita e secar as lágrimas no mesmo minuto.

A intenção é boa, pois tem o propósito de te ver feliz. Porém, esse é o problema da dor. A sociedade a nega tanto, que ela incomoda quem a sente e quem a vê. De brinde, além de doídos com o rosto inchado, ganhamos um forte sentimento de inadequação por não estarmos demonstrando felicidade e elegância.

Claro que não estou fazendo apologia ao sofrimento, nem falando de Depressão, onde o furo é mais embaixo. Refiro-me a dor não patológica, inevitável, que todo mundo sente e que vem pra alertar, conscientizar e mostrar a direção certa. Para conhecer verdadeiramente o oposto desta emoção desconfortável, precisamos vivenciá-la de fato, o que não tem nada a ver com desespero ou instabilidade, mas sim de demonstração de coragem pra visitar os próprios labirintos e encontrar o caminho de saída.

Juliana W. Soeiro Psicóloga

CRP 07/26220

Contato: ju_soeiro@hotmail.com; 981345357

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