Uma música do cantor Chico Buarque causa polêmica e mais uma vez traz à tona a questão do machismo. O trecho diz: “Quando teu coração suplicar/Ou quando teu capricho exigir/Largo mulher e filhos e de joelhos vou te seguir”. Imediatamente devido à repercussão negativa que envolveu o artista, que segundo dizem “entende” como nunca a alma feminina, um linguista foi convocado a amenizar e interpretar a música, deixando claro que não se deve confundir o personagem com o autor da música. Salienta ainda três pontos que julga ser relevante: o fato da mulher que adora ser musa e viver um amor avassalador com alguém que se jogue a seus pés; a mulher que é deixada e causa mal-estar no universo feminino, pois muitas se solidarizam ou se identificam com a história e, portanto, acabam repudiando a música; e o poeta apaixonado, que por pertencer a uma categoria mais sonhadora pode largar filhos e viver um tórrido amor enquanto for gratificante, sem medir consequências. Acredito que a arte tem como papel fundamental provocar, instigar comportamentos e extrair por um período a realidade das pessoas e criar no imaginário fantasias que a libertem de si mesmas e de suas crenças, para então poder viajar para lugares inimagináveis e até mesmo desejar um príncipe que a enalteça e faça feliz. Entretanto, o discurso que prevalece na atualidade é de que a mulher tem consciência de sua força e capacidade de gerenciar sua própria vida, e assim não permite ser maltratada muito menos enganada. Muitas ainda permanecem ao lado de um homem que as mantêm apenas pelos filhos, ou por pena, o que é lamentável, pois já tem outra pessoa, como a música coloca. Felizmente, tantas outras não suportam essa duplicidade e ao descobrir a traição imediatamente tomam uma posição que preserva a dignidade do casal e sua integridade. A referida música gera polêmica não apenas pelas mulheres não aceitarem mais o machismo e suas consequências, mas também por entender que na dinâmica da vida os laços entre homem e mulher se estabelecem a partir de uma sintonia mútua, em que o respeito e a admiração são ingredientes indispensáveis que irão garantir uma relação saudável e bem-sucedida. É bom ressaltar que o machista terá que se reciclar se quiser se encontrar neste século de transformações, que exigem novos comportamentos e atitudes.
Ótima semana Por Rosane Machado Mestranda em Estudo Sobre as Mulheres, Gênero, Cidadania e Desenvolvimento pela UAB de Portugal
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