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Na última semana, os jornais e redes sociais foram tomados pela triste notícia da retoma do poder pelo grupo extremista Talibã no Afeganistão.
O grupo, que comandou o país entre 1996 e 2001, adotou uma visão extremamente rigorosa da lei islâmica, impondo restrições escandalosas em maior parte aos direitos das mulheres. Pela visão do Talibã, mulheres não podem trabalhar, sair de casa sem permissão do marido, meninas não podem estudar e muitas são obrigadas a casas com guerrilheiros e acabam virando escravas sexuais.
Um enorme retrocesso e uma tristeza profunda em ver o desespero daquele povo diante das crueldades que são aplicadas ao povo que desobedece a lei que lhes é imposta.
O fato é que temos quase certo que, passado o “susto”, a luta será esquecida, principalmente diante da declaração do presidente americano “lavando as mãos” em relação à situação. Mas isso não é tão novo assim em um contexto que envolve mulheres.
Toda repressão à mulher, desde os tempos mais antigos, aconteceu em detrimento do conhecimento que a mulher naturalmente possui e que, se potencializado pelos estudos, pode dar a ela autonomia para fazer, criar e viver da forma que se sentir mais feliz e realizada.
Na inquisição mulheres também foram mortas por uma interpretação extrema, errada e rigorosa dos ensinamentos bíblicos e qualquer uma que demonstrasse domínio de qualquer técnica que exigisse mais conhecimento ou que se rebelasse a fim de não seguir as regras do casamento e da reprodução, era jogada na fogueira como forma de “purificação”.
Em algum momento da história as mulheres já foram cultuadas como seres sagrados, pois somente elas eram capazes de dar vida; participam ativamente de todas as atividades e não havia hierarquia ou qualquer tipo de repressão em relação a isso. Detinham conhecimento das ervas, do corpo, da alma. Os corpos que tomavam forma a cada parto era cada vez mais sagrados e as curvas que se formavam cada vez mais bonitas e atraentes.
Mas isso se perdeu a partir do feudalismo quando os homens passaram a ir para guerras e descobriram que também eram capazes de reproduzir, transformando as mulheres em propriedades através do casamento cujo único papel estava diretamente ligado aos deveres domésticos.
A partir de então, mulheres são reprimidas sempre que tentam dar voz à própria vida, sempre que tentam se posicionar de maneira segura para defender a própria verdade. São mortas, violentadas, caladas, assediadas na maioria das vezes por quem deveria caminhar lado a lado com elas, pais, maridos, chefes, namorados etc. As fogueiras mudaram, não queimam por fora, mas matam por dentro.
De certa forma isso também causou um certo desequilíbrio quando passamos a uma fase de maior liberdade, muitas mulheres rebaixaram o seu valor ao mais inescrupuloso dos homens, pensando, erroneamente, que assim conseguiriam ter voz e respeito.
Em todo excesso existe uma falta, esse excesso de prisão, de fome, esconde uma falta de anos que mulher carrega por não conseguir ter paz para voar com as próprias asas, e acredito humildemente que o que falta é o equilíbrio do resgate do saber sagrado e inato a toda mulher e a busca pela liberdade para dar voz a isso, impor a presença feminina com força, respeito, sabedoria e frieza. Sim, frieza, para passar pelas repressões com a cabeça erguida em busca de algo maior, da real liberdade de ser mulher.
Entre o medo de enfrentar tudo e todos para dar sentido à vida, existe esse buraco enorme dos excessos que podemos cair e dentro dele estão todos esses fatores sociais que nos aprisionam, diminuem e matam.
Qual seria o remédio, portanto? A união na busca pelo real conhecimento do valor feminino em todos os aspectos, considerando todas as situações e variáveis. E isso falo com base em uma frase da minha mãe: de tudo que você pode perder na vida, o conhecimento é algo que ninguém nunca vai tirar de você.
Deve ser por isso que há tantos milhões de anos, o nosso conhecimento é o que mais querem reprimir.
Kamila Alves de Oliveira
Estrategista em Posicionamento para Mulheres
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