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A mulher e a literatura

O que poderíamos esperar em relação à mulher e à literatura, já que esta envolve transmissão de conhecimento e, sobretudo, consegue modificar o modo de pensar e agir, influenciando um determinado contexto? Não poderia ser diferente do que até agora tenho abordado sobre a mulher: exclusão, silenciamento, tudo o que for relativo à ausência de sentido e muita luta para obter reconhecimento e visibilidade num universo estritamente machista.

Nesse sentido, Anabela Galhardo Couto coloca que na cultura Ocidental o saber e a palavra eram prerrogativas masculinas, assim as mulheres eram consideradas transgressoras se ousassem invadir esse território, já que na distribuição de papéis a mulher estava reservada à esfera da reprodução. Historicamente, a escrita de mulheres que viviam à margem do sistema familiar era mais tolerada, enquanto que a das que viviam no seio da organização familiar era mais reprimida. Ou seja, a mulher que obedecia à lei comum não podia escrever, e a que escrevia não obedecia à lei comum. Fica claro que o fato de ter o dom da escrita estaria colocando a mulher numa situação de discriminação e isolamento, por ser diferente das demais, que se limitavam a apenas exercer o papel designado a elas.

Como foi para as mulheres conseguir destaque se até mesmo nas turmas de Letras, que formam profissionais para esse exercício, houve época em que os professores eram homens? A professora Rita Schmidt, integrante do Grupo de Trabalho Mulher e Literatura da ANPOLL (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística), afirma que “Todas nós, nas nossas instituições, sentimos na pele a discriminação por ‘ousarmos’ levantar a questão do preconceito e da discriminação contra as escritoras nos nossos departamentos de literatura. Como nos ‘atrevíamos’ desafiar o estabelecimento crítico e nos colocarmos como objetos e sujeitos de pesquisa? Nós, sendo mulheres, não teríamos legitimação para investigar a literatura escrita por mulheres”.

Acredito que essas mulheres, com sua criatividade e capacidade de romper barreiras, foram se inserindo nesse campo do saber e assim começaram a se tornar referência, criando histórias que alimentam o imaginário feminino e com isso nos levam a sonhar e a transgredir, sempre em busca do inusitado, da diferença que possibilite novos rumos, novas possibilidades.

Ótima semana!!!

Por Rosane Machado

Mestranda em Estudo Sobre as Mulheres, Gênero, Cidadania e Desenvolvimento pela UAB de Portugal

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