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A “moda” do feminismo!

Você já refletiu sobre a mercantilização do feminismo? Isto é, o uso estratégico e apenas capitalista do movimento feminista por empresas do ramo da moda, cosmética e por aí vai.

 Nos últimos anos, acompanhamos um crescimento significativo e muito empolgante de vários movimentos feministas, nas suas demais vertentes, que lutam, sumariamente, pelo empoderamento de mulheres no mundo todo, assegurando nossos direitos essenciais, mas sempre questionados e instáveis. Hoje, comportamentos absolutamente opressores, mas que culturalmente eram vistos como “aceitáveis” ou “normais”, não são mais tolerados, o que é de extrema importância se pensarmos no propósito pelo qual lutamos.

Percebemos que com o avanço da tecnologia, ganhamos um amplificador para que nossas vozes sejam ouvidas e isso é, sem dúvida, algo fantástico, tendo em vista os anos de escuridão em que vivemos enclausuradas e privadas de todo e qualquer direito básico ao ser humano (não que ainda não sejamos cerceadas!).

No entanto, percebo que muitas empresas, seja da indústria da moda ou cosmética, têm se aproveitado da grande escala internacional que os movimentos feministas atingiram, com o único objetivo de lucrar em cima de uma luta tão importante, como a luta por equidade de gênero! Entendo que toda a visibilidade que a luta feminista possa ter é de suma importância, mas será que não estamos diante de um paradoxo quando essa visibilidade é promovida por agentes que contribuíram absurdamente para a imposição de vários padrões de opressão?

Nesse sentido, temos nos deparado com vários produtos para cabelos crespos e cacheados, antes tão desprezados pelas grandes marcas de cosméticos. O mesmo acontece com as marcas que “finalmente” entenderam que existem mais mulheres que vestem acima do tamanho 36 ou PP, e passaram a pensar em roupas para todos os tipos de corpos. Mas será que a intenção dessas grandes marcas é, de fato, promover a autoconfiança da mulher, seja por meio da moda ou dos cosméticos? Será que não estamos nos enganando, ao acreditarmos nessa repentina mudança comportamental? Quem lucra com tudo isso?

É incrível que uma menina que veste tamanho 50 consiga entrar numa loja e encontre seu jeans sem passar por nenhum constrangimento. Do mesmo modo, é libertador para as crespas e cacheadas encontrarem produtos que foram pensados para o seu tipo de cabelo. Porém, já se questionaram o real motivo por trás dessa revolução toda? Já foram atrás do histórico de uma determinada marca para verificar se ela sempre se posicionou e atuou dessa forma ou só está surfando nessa onda extremamente rentável?

Nessa linha, fico pensando nas grifes hiper luxuosas que escrevem a palavra “Feminista” numa camiseta, mas vendem a peça por um absurdo de milhares de dólares. Faz sentido pra você? Aliás, faz algum sentido?

Nossa luta por igualdade de gênero, social e econômica é muito significativa para ser mercantilizada por marcas que até bem pouco tempo tratavam a mulher que fugia desse padrão inquisidor de beleza como bastarda, indigna de usar determinadas peças ou produtos.

Esse comportamento é algo totalmente perceptível se nos ativermos às grandes grifes, que atuam com um padrão perverso e insalubre, principalmente quando exigem um nível de magreza de suas modelos que é desumano e, por vezes, mortal.  Percebam que esse tal padrão e as peças que são feitas baseadas nele são feitas para corpos irreais, que na verdade nem se aplicariam as próprias modelos, se não fossem submetidas a dietas rigorosas e doentias.

Da mesma forma, temos a indústria de cosméticos, que sempre tratou o cabelo crespo como algo ruim ou desarrumado, e para tanto, vendia produtos e mais produtos para alisar os cabelos crespos, com o intuito de torná-los mais “fáceis e maleáveis”.

Obviamente fico feliz em ver o movimento feminista atingindo proporções inimagináveis, no entanto,  fico incomodada e desconfiada dessa “onda feminista” que atingiu as grandes indústrias, que de um dia para outro se tornaram ativistas, conscientes e atuantes… Por que demoraram tanto? Por que somente agora resolveram se importar e se posicionar?

A grande reflexão aqui é entender que esse engajamento que ultimamente tem sido viral nem sempre tem uma boa intenção por trás, tão pouco tem como objetivo contribuir e promover a autoestimas das mulheres. O objetivo, na maioria das vezes, é apenas lucrar. Lucrar com nossa insegurança, nossa dor, nossos sentimentos, nos tornando reféns de um ciclo maldoso e interminável do que é beleza e do que é empoderamento.

Por Amanda Alves Rodrigues

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