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A maternidade na visão de um homem

Esta semana li uma crônica de um renomado médico que afirmou: “a emancipação feminina transferiu a iniciativa da maternidade para a etapa final da fertilidade, e então muitas mulheres renunciam ao instinto mais antigo, o da procriação”. Gostaria aqui de fazer uma reflexão com base nessas palavras.

Nos dias atuais, são vários os fatores que levam a mulher a repensar a maternidade, o que considero de fundamental importância, pois nem toda a mulher nasce para ser mãe, mas torna-se mãe por exigência ou cobrança da família e da sociedade. Felizmente, isso vem diminuindo, muitas mulheres já compreenderam que não precisam seguir as convenções impostas por uma sociedade historicamente machista e conservadora, e sim fazer aquilo que as complete, as deixa feliz. Diversas mulheres modernas abdicaram de ser mãe por preferir seguir uma carreira de sucesso, apesar de um número bem inferior ao de homens, que conseguem espaços mais privilegiados.

Além desse contexto, algumas mulheres referem não ter encontrado um parceiro compatível com quem possa dividir as tarefas na criação de filhos, sabendo da responsabilidade do ato de gerar e criar um filho, e assim renunciam esse desejo por não quererem enfrentar os anos iniciais sozinha.

Observo inúmeras jovens repensando esse fato, questionando a real importância de ser mãe, com inúmeras considerações que a deixam em dúvida, mas felizes por poderem fazer essa escolha. Enfim, é possível dizer que aquela mulher do passado, que tinha muitos filhos e dedicava-se integralmente aos seus cuidados, está cada vez mais ficando apenas no nosso imaginário, pelo relato das nossas bisavós/avós, que ainda não tinham esse direito de escolha, tendo que seguir esse caminho com desvelo, para provar que eram capazes e competentes nessa função.

Talvez no futuro pouco se veja uma mesa cheia rodeada por filhos e netos, mas com certeza se verá um ser humano realizado na cabeceira da mesa, envolta em papéis ou digitando no seu computador, ou apenas desfrutando de momentos de solitude, onde seu espaço é sempre surpreendente, pois sua rotina foi criada a partir de seus desejos e anseios, que puderam se solidificar com sua força e capacidade criadora.

Então, caro doutor, talvez sua forma de encarar a maternidade esteja equivocada/ultrapassada, mas respeito sua opinião, apesar de não concordar com ela. Somos mulheres livres para fazer o que queremos na nossa vida, pois temos capacidade de decidir qual o caminho seguir.

Ótima semana!

Rosane Machado

Mestranda em Estudo sobre as Mulheres, Gênero e Cidadania pela UAB de Portugal.

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