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A forma “naturalizada” feminina

A forma “naturalizada” feminina

Estava em um restaurante quando um casal na faixa dos 75-80 anos de idade chama a minha atenção. A senhora estava quase sentando próximo a uma ampla janela com vista privilegiada quando o senhor se antecipa dizendo que queria sentar nesse local, o escolhido por ela. Silenciosamente, ela recua e deixa-o se acomodar. Não existiu um comentário que justificasse o pedido, como: “estou me sentindo sufocado e gostaria de ficar mais próximo da janela”. Nenhum olhar, apenas uma voz de comando que a direcionou para outro lado.

Fico pensando em outras tantas situações que ela sempre tem que ceder, e inúmeras possibilidades surgem com a mesma facilidade que vão sendo todas entregues ao seu marido.

O sociólogo francês Pierre Bourdieu ilustra o ocorrido ao expor que o adequado para o homem ou para uma mulher é lembrado como opções perfeitamente naturais, que estão inscritas no estado implícito, nas posições oferecidas às mulheres pela estrutura colocada pela família e por toda ordem social. O mundo sexualmente hierarquizado impõe-se de forma “naturalizada” através de silêncios, injunções, ou ordens explícitas.

Poderia pensar que esse casal é de outro tempo e que, portanto, é algo comum para a época. Mas, e agora, como podemos perceber a dominação masculina? O trabalho crítico do movimento feminista tem auxiliado a repensar essas questões, mas ainda temos um longo caminho a percorrer. E como coloquei no texto anterior, precisamos educar tanto homens quanto mulheres, para que esse comportamento que ainda ocupa um amplo espaço social tenha avanços reais e possa estabelecer um novo contrato entre o gênero masculino/feminino.

Uma ótima semana!!

Por Rosane Machado

Mestranda em Estudo Sobre as Mulheres, Gênero, Cidadania e Desenvolvimento pela UAB de Portugal.

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