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A domesticidade feminina na contemporaneidade

A domesticidade feminina incorporada no século XX estaria alicerçada em colocar a mulher no âmbito privado, onde teria a oportunidade de exercer sua maternidade através da sua capacidade intrínseca de gerenciar afetos e produzir bons cidadãos. O trabalho externo, portanto, seria uma ameaça à estabilidade do casamento, uma vez que estaria sobre sua total responsabilidade proteger seus membros, caso contrário estaria sendo julgada e discriminada por não obter requisitos necessários para ser uma boa esposa e mãe competente, o que para a época seria inadmissível.

A frase de Schopenhauer ilustra bem esse período “Não deveriam existir no mundo senão mulheres de interior, dedicadas à casa, e jovens aspirando a isto e que formaríamos não à arrogância, mas ao trabalho e à submissão”. E ainda: “A mulher […] permanece toda sua vida uma criança grande, uma espécie de intermediária entre a criança e o homem, este o verdadeiro ser humano”. Assim, aliado a outros grandes pensadores que detinham poder e eram considerados como pessoas ilustres e, portanto, capazes de influenciar com suas ideias, criaram um estereótipo de mulher que durante muito tempo fora considerado incapaz, sem voz e expressão, sem força para reivindicar e entender sobre a dinâmica da vida e seus direitos.

Felizmente, na atualidade, conforme Emily Matchar aborda em seu livro intitulado Homeward Bound: why women are embracing the new domesticity, que fala sobre o que denomina de “nova domesticidade”, as mulheres retomam a atividades consideradas domésticas e femininas, por questões de saúde e sustentabilidade, bem como buscam alternativas num contexto de recessão. Em geral, são mulheres de alto nível de educação formal que não conseguem conjugar trabalho profissional com a maternidade, como referiam as feministas, e buscam um retorno ao tempo de suas avós por julgarem ser mais tranquilo.

Acredito que o feminismo conseguiu modificar conceitos e estabelecer um novo paradigma feminino, que propõe a construção de uma nova mulher, que compreende seu corpo e aceita o desejo com naturalidade, sem precisar mais escondê-lo por ser considerado um pecado, que se admira e busca um contato intenso consigo para se redescobrir, sem culpa. Por isso, a domesticidade de hoje, a meu ver, é uma possibilidade entre tantas que se descortinam a sua frente, e não mais um aprisionamento que a limita apenas a um único caminho, sem lhe permitir desfrutar o que a vida tem como excelência, a criatividade e liberdade de poder se expressar através dos movimentos, das sutilezas de um encontro e da busca irrestrita da felicidade.

Ótima semana!!!

Por Rosane Machado

Mestranda em Estudo Sobre as Mulheres, Gênero, Cidadania e Desenvolvimento pela UAB de Portugal.

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