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2020 e a Menininha dos Fósforos


Para o ultimo texto do ano de 2020 temos o conto da Menininha dos Fósforos, e fiquei pensando se sincronicamente ou forçadamente poderia fazer alguma relação do conto com o que foi esse ano para mim e quais foram essas lições.


A menininha dos fósforos é um dos contos mais tristes do livro mulheres que correm com lobos, porque a protagonista (que não tem pai ou mãe) é muito pobre, vive em condições insalubres e ninguém lhe enxerga. Para tentar sobreviver, vende fósforos na rua.


Ninguém se interessa por ela e a menina não consegue vender nada. A noite vai chegando, vai ficando muito, muito frio e ela, sem gravetos ou lenha vai acendendo fósforo por fósforo ate que não tem mais nada para acender ou se aquecer. Na neve, cheia de desespero ela cria fósforos da própria imaginação e inventa os cenários mais bonitos em sua mente para se aquecer. Acende mais e mais fósforos imaginários e consegue encontrar sua avó durante seus devaneios, no momento em que está morrendo de frio e por quem é levada aos céus.


Nem precisei forçar porque esse cenário é totalmente igual ao cenário de 2020: tragédia, frieza, falta de empatia, morte, discriminação. 2020 foi acender fósforos e mais fósforos na tentativa de que mais luzes não se apagassem. Sem muito sucesso: racismo, fascismo, genocídio, destruição ambiental. Essa história não poderia ser mais condizente com o que estamos vivendo.


Sim, como diz a Clarissa, muitas vezes as histórias trágicas são necessárias para a iluminação das consciências. Acredito nisso, mas quantas histórias trágicas mais vamos precisar¿ Posso estar sendo pouco esperançosa para um final de ano, mas sinto muito, aqui não vai ter fake filosofia namastê. Quer esperança¿ não apague o fogo, ajude a acender a chama. Não na Amazônia ou no Pantanal, mas na ignorância, no preconceito, no racismo e na falta de empatia.


Psicóloga Juliana Soeiro

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